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Melhoria em modo "criança"

Como (aprendiz de) Lean Sensei que sou costumo dizer que as crianças estão melhor preparadas para resolver problemas que os adultos pois estão libertas de paradigmas limitadores e têm uma enorme necessidade de explorar e conhecer o mundo à sua volta.

Se observarmos como as crianças abordam os desafios (no vocabulário infantil não existe o termo “problema”) podemos (re-)aprender algumas lições sobre a sua aplicação à melhoria contínua no contexto empresarial. Vejamos então como:

1. As crianças são curiosas

Sigamos então o seu exemplo. A cada instante a criança coloca uma questão, tem “sede de saber”, quer conhecer e compreender. Que nos impede a nós “agora crescidos” de fazer perguntas? Será o medo de fazer perguntas “parvas” e isso resulte motivo de escárnio por parte dos colegas de trabalho? Ou será o não querer “dar nas vistas” para que ninguém incomode? Fazer melhorias começa com uma vontade genuína de querer perceber o que se passa.

Ao contrário dos adultos, as crianças são menos capazes de se focalizar em apenas uma coisa. Em vez disso, repartem a sua atenção pelo todo, o que é uma boa abordagem para aprender (para perceber como as coisas funcionam e assim explorar o mundo que as rodeia). O que podemos nós aprender com isto? Em vez de focalizar de imediato num só ponto (especialmente numa fase inicial de investigação dos problemas) e daí saltar logo para a "solução" recomenda-se que exploremos bem toda a envolvente do problema.

A pressão para apresentar soluções /resultados não ajuda a ver a situação global. É, pois, necessário dar tempo para realizarmos um scan geral.
Uma das ferramentas mais simples usadas no lean management é os 5W (five whys, cinco porquês), duvido que alguma criança conheça tal ferramenta, mas não há nenhuma que não a aplique várias vezes ao dia (e não se satisfazem com cinco perguntas). Serão poucos os adultos ligados à melhoria contínua que não conhecem os 5W, mas poucos fazem uso dela.

2. Afirmar o óbvio

Quem ainda tem miúdos em casa sabe como eles tendem a afirmar o óbvio enquanto que nós adultos evitamos ao máximo fazê-lo por receio de sermos classificados de mentalmente diminuídos pois tais afirmações não requerem demasiado esforço mental.

Pelo contrário, a repetição do óbvio reforça a ideia e clarifica. Veja-se, por exemplo, as práticas de segurança nos transportes ferroviários no Japão (link).

Quantas não são as vezes que questões "estúpidas" tornam óbvia a observação? Por muito inocentes ou ignorantes que as questões/afirmações possam ser, as mesmas muitas vezes abrem-nos os olhos para as respostas/soluções.

3. Pensar pequeno

Por norma, a mudança lean é grande (considere-se, por exemplo, a aclamada mudança cultural que esta transformação se propõe fazer). A ideia é abranger a empresa toda e durante muito tempo... As crianças, por seu lado, orientam a sua atenção para coisas pequenas, uma de cada vez e vão a partir daí expandindo o seu campo de acção ou o conhecimento do mundo que os rodeia. Não quero com esta ideia sugerir que a ideia da mudança lean aplicada a toda organização seja abandonada, o que podemos fazer é, também aqui, aprender com os "miúdos" e optar de dar pequenos passos de cada vez. Cada oportunidade realizada, cada pequeno problema resolvido é uma oportunidade para aprender e assim aumentar o "poder" de resolução.

4. Sem medo de falhar

O medo tolhe e bloqueia a criatividade. Os miúdos estão focalizados no alvo não nos obstáculos ou nos riscos que correm nem muito menos no impacto que terá um falhanço na sua reputação. Ken Robinson explica muito bem a capacidade das crianças em dar palpites e em experimentar sem o medo de falhar. Ele mesmo nos diz: “If you're not prepared to be wrong, you'll never come up with anything original”.

Nas Empresas, quando nos é dada a permissão para falhar, a nossa mente abre, a criatividade floresce e daí resultam ideias inovadoras e novas oportunidades para a melhoria. Quando aponta o dedo ao outro pela falha/erro está a matar o mensageiro pois as pessoas não mais reportarão falhas nem mesmo experimentarão.

Ainda a propósito do medo, lembro um (trecho do) poema de Alexandre O'Neill
 
Ah o medo vai ter tudo 
tudo 
(Penso no que o medo vai ter 
e tenho medo 
que é justamente 
o que o medo quer) 

5. Apreciar o que se faz

No processo de descoberta e aprendizagem dos miúdos não se detectam sinais de cansaço ou de aborrecimento. Enquanto que nós, os crescidos, tendemos a ver mais os problemas que as oportunidades, a baixar os braços perante a dificuldade e a contar o tempo no processo de resolução de problemas.

Apreciar o que se faz, valida o pensamento de Confúcio "If you do what you love, you'll never work a day in your life" (e eu posso confirma-lo). Mas se em vez disso, a melhoria contínua for encarada como uma obrigação, uma necessidade e não um modo de vida pouca ou nenhuma satisfação se retira da mesma.

Melhorar continuamente é também crescer continuamente.

Pensamento final – Quem ainda tem miúdos pequenos em casa recomendo que os aproveite bem e aprenda com eles. Em breve crescerão. As crianças são uma fonte de inspiração pela sua inocência e descomprometimento.

Think lean like children do, be agile like their minds are.


João Paulo Pinto


Notas – Este artigo teve como pontos de partida o podcast disponível neste link e este post.
 
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