Há uma década, Jeff Gothelf e Josh Seiden publicaram um livro chamado “Lean UX: Designing Great Products with Agile Teams e com isso introduziram uma abordagem revolucionária na forma como os produtos/serviços são criados. Desde então, “Lean UX” tornou-se uma das palavras da moda, preferida por startups e profissionais ágeis.
Lean UX é uma forma colaborativa e iterativa de projectar e construir produtos (ou serviços). Lean UX anda de mãos dadas com a abordagem ágil nascida na indústria de software no final do seculo passado. As metodologias ágeis (ex. Scrum) dividem um projecto em ciclos curtos e rápidos (sprints) para que as coisas sejam feitas rapidamente, com testes e melhorias contínuas ao longo do caminho. Lean UX segue uma abordagem semelhante, trabalhando num ciclo constante de pensamento, criação e teste.
O objetivo do Lean UX é aproveitar o poder da colaboração, reduzir o desperdício (em termos de tempo, esforço e recursos), experimentar e construir rapidamente para obter feedback desde o início. Com este feedback, o produto pode ser melhorado iterativamente. Por outras palavras, a criação da experiência do utilizador (UX, user experience) é um processo magro (lean, rápido, interativo e sem desperdícios) e o propósito deste artigo é alargar a aplicabilidade o Lean UX não se limitando ao desenvolvimento de software.
Os três princípios fundamentais do Lean UX são Design Thinking, Desenvolvimento Ágil e Lean Startup.
Já alguma vez teve oportunidade de ver como os designers[1] da sua empresa trabalham? É muito provável que estejam isolados de todas as outras funções, ou seja “vivem alegremente isolados na sua quintinha”. Não colaborar com funções ou departamentos como o Marketing/Comercial, Custeio e Planeamento é tudo menos lean. E isto traduz-se em longos e dispendiosos processos de desenvolvimento, muitos deles incapazes de dar resposta aos pedidos do Cliente.
Lean UX é a resposta a este problema ao associar os designers a um processo colaborativo alargado, no qual cada membro da equipa contribui para o design. Basicamente, como referido antes, é a mistura de Design Thinking, Desenvolvimento Ágil e Lean Startup.
Design Thinking assenta na ideia de que todos os aspectos de um negócio podem ser abordados tendo o design em mente. Por exemplo, quando uma empresa encontra um problema, ela pode resolvê-lo como um designer faria. Um ponto chave para esta estratégia é envolver pessoas durante o brainstorming, produzindo assim mais soluções potenciais.
O Desenvolvimento Ágil permite que os designers forneçam o maior valor ao Cliente e, ao mesmo tempo, reduzam os tempos de ciclo de desenvolvimento do produto, o que é conseguido ao envolver todos num processo colaborativo de desenvolvimento. Ou seja, em vez de seguir a abordagem tradicional (conhecida como método waterfall), em que o trabalho é dividido em departamentos, o desenvolvimento ágil garante que todos trabalham juntos desde o início. Esta abordagem colaborativa e interativa facilita o trabalho e a colaboração entre todos e desenvolve o espírito de equipa ao mesmo tempo que promove a criatividade.
O terceiro aspecto do Lean UX é a aplicação do método Lean Startup ao design de produtos, uma estratégia que implica experimentação e validação em ritmo acelerado. Neste método, os protótipos são produzidos o mais rápido possível para testar as suposições no mercado desde o início. Os testes iniciais geram feedback (quase) instantâneo, revelando o que funciona e o que não funciona. Dessa forma, suposições imprecisas e ideias fracas podem ser descartadas rapidamente e sem grandes custos associados, libertando recursos para que novas ideias floresçam.
PRINCÍPIOS LEAN UX
Lean UX é baseado nos seguintes princípios:
1. Colaboração multifuncional – em vez de trabalhar em silos (ou seja, isoladamente), diferentes funções e departamentos trabalham juntos. Com todos envolvidos em cada etapa, o Lean UX garante um processo de desenvolvimento mais curto;
2. Prioridade à resolução de problemas e à procura de soluções – Lean UX coloca a resolução de problemas em primeiro plano. A ênfase não está em projectar ou construir recursos em prol de um resultado. Em vez disso, trata-se de garantir que os problemas críticos são resolvidos no momento certo ao mesmo tempo que capacita todos para encontrar soluções;
3. Redução de desperdícios – Lean UX incentiva a excluir actividades de baixo ou nulo valor acrescentado (que se traduzem apenas no desperdício de tempo e recursos como documentação excessiva). Em vez disso, o foco é colocado na criação de um MVP (minimum viable product, produto mínimo viável), com o qual se possa aprender rapidamente. O objectivo é acelerar o progresso de desenvolvimento e como o nome sugere, tornar o processo mais lean e ágil;
4. Construir cedo e rapidamente – Lean UX sugere a criação de um MVP o mais cedo possível. O objectivo não é criar o produto quase concluído ou perfeito, mas sim construir algo que se possa melhorar contínua e iterativamente;
5. Permissão para falhar – Projectar e construir deste modo (errar depressa e corrigir de imediato) incentiva a experimentação e a aprendizagem com os erros. Ou seja, em Lean UX é absolutamente normal errar (desde que sejamos capazes de aprender com os erros). Graças aos curtos ciclos de feedback contínuo, além de aprender com os erros, é ainda possível melhorar interactivamente o produto. E, como não se investiu muito tempo e recursos para torná-lo perfeito, as consequências dos erros são mínimas (falhar depressa e barato).
COMO SE DESENVOLVE O PROCESSO LEAN UX?
A segunda parte sobre Lean UX (lean user experience) explica como o colocar em prática. O processo Lean UX é composto por várias etapas simples, e a primeira é criar Suposições.
Suposições são expressões escritas de ideias e crenças. Considere, por exemplo, um restaurante: uma suposição desta empresa pode ser que os seus clientes utilizarão os seus serviços para realizar “almoços de negócios num ambiente distinto e seguro”. Embora o restaurante possa presumir que tem as condições para oferecer este serviço, presumir não é suficiente. Esta suposição precisa de ser testada.
A próxima tarefa é transformar a suposição numa declaração de hipótese testável usando três aspectos: resultados, personas e recursos. Comece pela possibilidade de gerar um resultado, ou seja, o resultado que deseja que seu produto ou serviço alcance. Por exemplo, o resultado do restaurante pode ser conseguir que mais empresas conheçam e reservem o serviço “almoços de negócio”.
Depois de decidir o resultado, projete as suas personas (ie, esboços dos utilizadores do seu produto ou serviço). Comece por fazer um pequeno desenho com nome e idade, digamos, José Finório, 68 anos, político autárquico habituado a fazer reuniões de trabalho à mesa. De seguida, liste informações comportamentais e demográficas sobre sua persona. No caso de José Finório, isto pode incluir ter um lugar de estacionamento para o seu “classe S”, gostar de falar alto e sem receios de ser ouvido, saber que pode contar com um funcionário para lhe satisfazer os seus pedidos.
Em seguida, registe as dificuldades e necessidades da sua persona – talvez o José Finório esteja à procura de um restaurante que lhe garanta uma sala reservada e disponível sempre que surja oportunidade de se reunir. José Finório, gosta de impressionar os seus convidados com fartos menus e extensas listas de vinhos.
A última etapa é adicionar recursos, produtos e serviços reais que possam alcançar os resultados que deseja para suas personas, como um serviço de reserva dos almoços ou o acesso rápido à ementa do dia para facilitar a escolha do menu.
Na figura apresenta-se com maior detalhe as etapas do ciclo Lean UX.