Os stocks representam uma importante parte do custo das empresas, em especial para as empresas industriais. Estas empresas comprometem grandes quantias de dinheiro em stocks de matérias-primas, intermédios (work-in-process, WIP) e produto acabado.
Sem querer entrar na velha discussão das vantagens de ter ou não ter stocks, neste artigo apresento uma dúzia de estratégias para redução de stocks pois a mesma terá um impacto muito positivo no sucesso da cadeia de fornecimento (supply chain).
E1. Redução do lead time
Há uma relação directa entre o tempo (lead time) e a quantidade de stock e isso é exemplarmente explicado pela lei de Little. Todo o esforço na redução de tempos (fabrico, setup, transporte, desenvolvimento, etc.) resultará na redução de stock e na redução de custos. O investimento na redução do lead time tem por norma um elevado payback.
E2. Redução o tamanho do(a) lote/encomenda
Ainda no seguimento da Lei de Little… menores quantidades resultam em menos tempo, menos stocks e menos custos. Mais fácil dizer que fazer, certo? Eu percebo… Como posso eu reduzir quantidades com estes tempos de setup? E como reduzir lotes se o transporte é tão caro? E como fazer quando o fornecedor me impõe estas quantidades? Pois é tem razão, mas continuar a apontar as dificuldades não resolve o problema. É sempre possível reduzir quantidades, como? Colaborando com clientes e fornecedores, reduzir tempos (menos burocracia, aplicar o SMED nas máquinas…), partilhar transportes e meios de armazenamento, em suma pensar fora da caixa.
E3. Melhorar a relação com os parceiros da cadeia de fornecimento (fornecedores e clientes)
Esta estratégia vem no seguimento da anterior, não tem nada de novo mas a mentalidade portuga não a percebe. Numa visita recente que fiz a uma Queijaria na Beira Alta o Administrador relatava os exemplos de cooperação dos seus congéneres Holandeses e por cá nenhuma empresa mostrou abertura para tal colaboração. Este Administrador para dar resposta a um pico da procura solicitou a empresa vizinha que lhe fizesse uma determinada encomenda, poucos dias depois o seu Cliente já tinha conhecimento que sua empresa tinha recorrido a subcontratação para aquela encomenda, imagine-se quem terá informado o Cliente… Ok, tristezas à parte, esta estratégia poderá resultar em enormes (corrijo: gigantescas!) vantagens para a gestão da cadeia de fornecimento. É por norma uma estratégia low-cost mas que exige muito open-mind.
E4. Rever os parâmetros de gestão dos seus stocks
Quando refiro parâmetros de gestão de stocks estou a falar de: “ponto de encomenda”, “tamanho do lote de compra/fabrico”, “lead time”, “stock de segurança”, “stock médio e máximo”, entre outros. Há quanto tempo estes parâmetros não são revistos? Foram alguma vez calculados ou apenas estimados? E as equações vieram de onde e de que século são?
E5. Aplicar a análise ABC para melhor focalização
A análise ABC ajudará a separar os materiais e SKU’s (stock keeping unit) críticos dos não-críticos. Poderá aplicar esta ferramenta para identificar qual a melhor estratégia a aplicar aos diferentes artigos que gere, ou seja quais os que devem ser MTO (make to order) ou MTS (make to stock). Artigos críticos (ie, aqueles que fazem parte da classe A) devem seguir a estratégia MTS (para que estejam sempre disponíveis), os artigos B podem seguir a estratégia ATO (assembler to order, montados por encomenda) e os C’s podem adoptar a estratégia MTO.
E6. Redução da variedade
A isto chama-se “diferenciação retardada” ou postponement. A ideia é simples: quanto mais tarde fizer a diferenciação dos produtos que apresenta ao mercado menores os stocks e os custos. Como se faz? Tudo começa na concepção dos produtos: usando partes e processos comuns, por exemplo: a VW, entre outros fabricantes, partilha o mesmo chassis com diferentes modelos. Outro exemplo: porque motivo deverá um fabricante de computadores localizado na China colocar na embalagem todos os tipos de ficha para carregamento do computador se existe tanta variedade de encaixes? E porque terá ele de colocar na embalagem os manuais em todos os idiomas dos países onde será vendido o produto? Estes dois exemplos mostram como o postponement pode ajudar a reduzir os stocks… os parceiros locais podem colocar na embalagem o respectivo cabo e manuais…
Para por esta estratégia em acção vai precisar da Engenharia, dos Fornecedores e dos Clientes do seu lado. Por esta razão esta não é das estratégias mais fáceis de aplicar.
E7. Redução de stocks obsoletos
Quantos monos se escondem nos armazéns? Quantos ainda ocupam espaços valiosos em prateleiras, armários e gavetas? Quantos registos informáticos são ainda mantidos para estes monos? E quanto valem esses artigos que há meses e anos não têm qualquer actividade? Se der resposta a estas questões conseguirá identificar acções para se libertar desses materiais.
E8. Meça bem para melhor gerir
Diz-me o que medes e te direi o que obténs. Esta é uma importante estratégia para a redução de stocks. Procure relacionar métricas com os resultados que pretende alcançar, simplifique o processo de recolha de dados e de apresentação da informação. É importante relacionar métricas operacionais com as financeiras sem esquecer as relacionadas com a satisfação do Cliente (ex. on time delivery e servisse level).
E9. Auditorias aos armazéns
No seguimento da anterior estratégia, recomenda-se que faça auditorias aos seus armazéns para validar as condições de armazenamento e confrontar as existências físicas com a informação que circula no seu sistema ERP. Este é um dos meios de purgar informação desatualizada ou incorrecta ao mesmo tempo que garante que os padrões de trabalho estão a ser seguidos no armazém.
E10. Se possível, aplicar o conceito VMI
Vendor managed inventory (VMI) – passe a gestão dos stocks para o fornecedor. Se são eles quem fornecem porque não transferir a sua gestão para eles. Note, aqui não há contradição com a estratégia E3: não se trata de “descarregar” no fornecedor a gestão dos stocks que ele lhe fornece, mas sim no estabelecimento de relações win-win entre as partes.
E11. Cuidado com as previsões!
As previsões são um tema interessante no mundo académico porque recorrem a métodos quantitativos e qualitativos muito giros, mas que não passam disso. Womack no livro “Lean Thinking” (verão de 2003) diz-nos que se há alguma coisa certa é que as previsões estão erradas! Ok, mas como fazer então? As primeiras seis estratégias que referi mostram-lhe o caminho. Sem primeiro as aplicar não poderá dizer que esta estratégia não faz sentido.
E agora?
Não posso garantir nada, mas o uso consistente destas estratégias resultará na redução de stocks enquanto que os custos logísticos irão decair. Note que a redução de stocks não pode, em caso algum, resultar na degradação do serviço ao Cliente nem na penalização da relação com Fornecedores. Estou certo que nem todas as estratégias apresentadas terão aplicação na sua Empresa e, como vimos antes, umas estão dependentes de outras. A escolha por onde começar poderá basear-se em critérios como a facilidade de implementação e o rápido retorno de resultados. A lista apresentada neste artigo não está completa, mais oportunidades de redução podem ser apresentadas, vejam-se estes exemplos.
Estas estratégias serão abordadas com maior detalhe na MBA em Logística e Supply Chain Management que em breve se iniciará.
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